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Fotógrafo paulista registra Trancoso e seus moradores em mostra e livro

Written By Jornal Estado da Bahia on quinta-feira, 14 de abril de 2016 | 10:12:00


Das milhares de fotos do local, 27 estarão expostas na Galeria Paulo Darzé, a partir de quinta, onde ficarão até 14 de maio


Roberto Midlej (roberto.midlej@redebahia.com.br)
Atualizado em 12/04/2016 12:54:25
  
João Farkas, em Trancoso. Ao fundo, a Igreja de São João Batista (Foto: Fátima Leão/ Divulgação)
O fotógrafo paulista João Farkas, 60 anos, esteve pela primeira vez em Trancoso, no sul da Bahia, em 1976. Fascinado com a descrição dos amigos, ele imaginava que encontraria um lugar paradisíaco. “Eu ouvia falar em uma cidadezinha perdida em cima de um morro, onde, para chegar, tinha que ir a pé de Porto Seguro até lá”.


E, quando chegou ao destino, Farkas não se decepcionou: “Quando cheguei lá em cima, vi umas casinhas iluminadas por lamparinas. Era mais ou menos o paraíso que eu procurava, que proporcionava um maravilhoso equilíbrio com a natureza”.
ExposiçãoEmbora tenha tido logo o desejo de fotografar aquele cenário encantador, Farkas achava que aquela ainda não era a hora: “Era a primeira vez que eu ia e o acesso era complicado, a pé, e isso dificultava levar o equipamento para fotografar”. Ele voltou para São Paulo, mas não desistiu.
As barreiras brancas ao fundo, em contraste com o azul do mar, foram citadas na Carta de Caminha
Foi no ano seguinte, em 1977, que Farkas retornou ao povoado para dar início à série de mais de 15 mil imagens que registrou até 1993. Dessas milhares de fotos, 27 estarão expostas na Galeria Paulo Darzé, a partir de quinta, onde ficarão até 14 de maio. No mesmo dia, Farkas faz o lançamento nacional do livro Trancoso (Cobogó/ R$ 125/ 128 págs.), que tem 80 fotos feitas em diversas visitas realizadas durante 16 anos à vila baiana.
As fotos podem ser divididas entre retratos, paisagens e flagras do cotidiano. “Sou fascinado por pessoas e, como tenho uma formação humanista, sempre coloco o indivíduo em sua relação com o ambiente”. Há, nos retratos, uma particularidade de Farkas: em vez de fotografar com a lente teleobjetiva, recomendada para registrar pessoas, ele usa a grande angular. “Com essa lente, eu consigo inserir melhor na imagem o ambiente, a casa, a praia, a mata...”, justifica.
Sobre as fotos das paisagens, Farkas é breve: “São lindas, afinal o ‘modelo’ é maravilhoso”. Nas imagens do cotidiano dos moradores, há pessoas plantando mandioca, sentadas num tronco, jogando futebol ou na janela da casa.
CasaA paixão por Trancoso foi tão grande que o fotógrafo comprou um terreno e construiu uma casa onde pretendia morar. Mas desistiu da ideia: “Se eu morasse em Trancoso, ia acabar sem fotografar. E se ficasse ali direto, tinha o risco de o filme derreter ou a câmera estragar. Era muito calor”. Por volta de 1985, Farkas vendeu a casa, mas continuou indo regularmente à vila. Em alguns anos, chegou a fazer quatro viagens até lá. 
Moradores do arraial de Trancoso fazem mutirão para construir a casa de Bernarda, também na foto 
Embora alguns colegas de Farkas demonstrassem interesse em fotografar aquele belo cenário, foi ele um dos primeiros a tomar a iniciativa: “Muitos sabiam que era um prato cheio para um belo trabalho, mas ninguém punha em prática. Afinal, quem iria  encarar aquela viagem se não tinha voo pra lá?”.
O fotógrafo faz questão de dizer que, embora a natureza chame tanto a atenção em Trancoso, é o povo de lá que faz a diferença: “O lugar é um dos mais bonitos do mundo, mas sem aquele povo maravilhoso, não vingaria. Meu trabalho é uma homenagem às pessoas e não só à paisagem”. Farkas observa ainda que os moradores, embora jamais tivessem sido fotografados, nunca foram hostis. “Ao contrário, sempre me recebiam como amigos. Fiz muitas amizades lá”.
O pescador e agricultor Francisco, em 1982. A foto é uma das 12 imagens da mostra Trancoso, que abre quinta na galeria Paulo Darzé
Farkas se sentiu tão acolhido pelo povo de Trancoso que se viu no dever de retribuir a boa receptividade: “Quando começaram a sugerir que eu fizesse a exposição destas fotos e do livro, eu pensei que os primeiros que deveriam ver esse material seria a própria comunidade”. Foi daí que surgiu o Memorial do Povo, da Cultura e da Paisagem de Trancoso, inaugurado com uma exposição no mês passado. Farkas doou 30 fotos impressas e concedeu à comunidade local o direito de que as imagens sejam usadas para fins culturais. “Uma das sensações mais gratificantes que tive foi ver o pessoal de Trancoso curtindo a exposição, reconhecendo amigos e parentes, discutindo a forma de vida da época das fotos”.
No ano que vem, o acervo do Memorial receberá mais 30 fotografias. “Mas, diferente de como foi agora, é a comunidade que vai escolher as novas fotos”, diz Farkas, que é filho do renomado fotógrafo Thomaz Farkas (1924-2011).
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